Argemela é nossa e há de ser

27-04-2017

Aldeia de Barco junta-se para travar mina a céu aberto
Fica a 15 km do Fundão e foi outrora palco da resistência das tribos celtiberas aos invasores romanos. Hoje, a Serra da Argemela é palco de uma vibrante luta popular face à ameaça dum novo projecto mineiro.

O alerta foi dado no início deste ano, depois de a empresa PANNN, com sede em Aljustrel, ter pedido ao governo uma concessão de exploração - as floresta e zonas de cultivo para agricultura de subsistência, repletas de lendas e vestígios ancestrais, poderão dar lugar a 400 hectares de extracção de lítio e outros minerais a céu aberto. Um contrato de prospecção estava em vigor já desde 2011. "Tudo feito pela calada da noite. O povo não é tido nem achado", acusam os habitantes. "São 400 campos de futebol. É absolutamente inimaginável. Não aceito que os meus netos amanhã queiram vir para cá, voltar para a aldeia dos seus avós e bisavós e encontrem uma paisagem lunar".

Barco, uma bucólica aldeia no sopé da serra, habituou-se nos últimos meses às acções de protesto. No início de março gritou-se ao som dos bombos: "Argemela é nossa e há de ser!". A 19 de março, a afluência e solidariedade desde as aldeias vizinhas surpreendeu os próprios organizadores: mais de trezentas pessoas juntaram-se para caminhar 10 km entre a aldeia e o emblemático Castro da Argemela, que remonta ao final da idade do bronze .

"Toda a vida tivemos estas árvores e agora querem substituí-las por aquilo. Os químicos usados nas lavagens de minério rapidamente podem infiltrar-se nos cursos de água. O que vai acontecer aos rios, aos poços e à agricultura?", pergunta Maria Galvão, que ali nasceu há 70 anos. Entre a serra e a aldeia passa o Rio Zêzere, que desagua no Tejo (o nome da aldeia vem de este ter sido um tradicional ponto de travessia). O projecto mineiro surge após o rio ter sido praticamente despoluído e varias espécies selvagens reintroduzidas na serra.

"Existem valores mais altos do que o lucro de uma empresa. Não quero que os meus filhos sejam privados da majestosa paisagem, do ar puro que respiram e da saúde que vem da terra e que se tornará em doença caso se dê início à extracção mineira", escreve Alexandre Carneiro, outro morador da região. "Todos os dias olho com tristeza e vergonha para aquilo que já destruíram desta bela Serra".

Anteriores explorações de minério deixaram feridas abertas na montanha e causaram ao castro danos irreparáveis. Agora, os barquenses garantem que usarão todos os meios até travar este projecto e apelam à solidariedade de todas e de todos.

A junta de freguesia e as câmaras da Covilhã e do Fundão garantiram estar ao lado da população. Uma petição circula em linha e conta à data com duas mil assinaturas. A próxima ocasião para amplificar a luta será já a 29 de abril, no âmbito do Festival Fornos da Argemela (FB: Festival Fornos da Argemela), em que a aldeia de Barco divulga o seu património gastronómico e cultural e atrai centenas de visitantes.


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